terça-feira, 26 de outubro de 2010

O que importa é o coração

Pergunta: Ouvimos com certa freqüência que “o que importa é o coração”. Qual é o significado dessa frase sob o ponto de vista da prática do budismo?
Resposta: De fato, o Buda Nitiren Daishonin enfatiza a importância do coração em diversos escritos. Por exemplo, no escrito “A Estratégia do Sutra de Lótus”, ele orienta seu discípulo Shijo King sobre a importância de basear-se na fé na Lei Mística antes de qualquer outra tática ou estratégia. Daishonin afirma: “O que importa é o coração”. (The Writings of Nichiren Daishonin [WND], pág.1.000.) Quando já vivia no Monte Minobu, Daishonin também escreveu “O Tambor no Portal do Trovão” à seguidora Senniti-ama que morava na distante Ilha de Sado, incentivando-lhe: “Simplesmente observar o rosto um do outro seria insignificante. O que importa é o coração da pessoa. Encontremo-nos algum dia no Pico da Águia, onde vive o Buda Sakyamuni”. (As Escrituras de Nitiren Daishonin, vol. 6, pág. 99.)
A palavra “coração” possui, sem dúvida, uma enorme abrangência de significados. O Dicionário Michaelis define o termo da seguinte forma: “s.m. 1. Anat. Órgão oco e musculoso, centro motor da circulação do sangue. 2. O peito. 3. Objeto em forma de coração. 4. Sede suposta da sensibilidade moral, das paixões e sentimentos. 5. Amor, afeto. 6. Caráter, índole. 7. Pessoa ou objeto amado. 8. Coragem, ânimo. 9. Centro, âmago”. Além disso, ao lermos a palavra “coração” nos textos budistas em língua portuguesa, há uma questão a ser considerada conforme consta nos “Comentários sobre a tradução” do livro Os Escritos de Nitiren Daishonin, reproduzida a seguir: “Mente: A palavra japonesa kokoro ou shin, que é comumente traduzida como ‘mente’ ou ‘coração’, não possui um equivalente exato no português, pois é um termo que engloba tanto a mente de uma pessoa, como seu espírito, emoção, volição e psiquê. Também pode indicar ‘vida’ como uma entidade psicossomática. Dessa forma, a palavra ‘mente’ ou ‘coração’, que aparece no texto deve ser compreendida no sentido mais amplo possível”. (Vol. 1, Prefácio, pág. lviii).
Vejamos, então, alguns aspectos relacionados com a palavra ‘coração’ sob o ponto de vista da prática do budismo.
Na frase “O que importa é o coração”, acima apresentada, podemos observar na palavra “coração”, o sentido de “fé” como também da própria “vida”. Normalmente, diante das dificuldades da vida diária, as pessoas planejam diversas táticas e estratégias em busca de uma solução. Entretanto, Daishonin orienta seu discípulo Shijo Kingo a, antes de mais nada, basear-se na fé na Lei Mística. Em outras palavras, Daishonin indica o caminho da fé ao Gohonzon e a recitação do Daimoku como o ponto de partida para a solução dos problemas, fazendo uso da referida frase. Por outro lado, podemos também entender que a solução de quaisquer problemas na vida se encontra no interior de nós mesmos, isto é, no nosso próprio “coração”.
Em um discurso, o presidente da SGI, Daisaku Ikeda, cita essa frase dos escritos, afirmando: “A felicidade não nos é concedida pelos outros ou vem de algum lugar fora de nós, mas é algo que nós próprios devemos obter com o nosso próprio coração. Assim como Daishonin diz, ‘O que importa é o coração’. (WND, pág. 1.000.) Em outro escrito, encontramos a seguinte declaração: “A boa sorte vem do coração e torna a pessoa digna de respeito”. (WND, pág. 1.137.) A fé é o que nos capacita a fortalecer e aprofundar nosso coração no grau máximo.
Além do significado de “fé” e de “vida” apresentado anteriormente para a palavra “coração”, podemos entendê-lo também como “determinação”. O budismo expõe o princípio de Três Mil Mundos num Único Momento da Vida (itinen sanzen) que ilustra o quanto uma “decisão” ou “determinação” de uma pessoa em um dado momento é importante para a transformação de sua vida e das circunstâncias ao seu redor. O presidente da SGI, Daisaku Ikeda, expressa claramente a importância da determinação: “’O que importa é o coração’. (The Writings of Nichiren Daishonin, pág. 1.000.) Nisso se encontra a essência da vida. Nosso coração e nossa mente envolvem toda a sociedade, o mundo e o Universo. Tudo se decide pela determinação em nosso coração neste exato momento. O budismo explana o princípio dos Três Mil Mundos num Único Momento da Vida. Nosso comprometimento de manter firmemente a fé na Lei Mística tem o poder de criar uma transformação positiva em nós mesmos, no ambiente ao nosso redor e até mesmo no mundo. Essa é a imensa força de nossa determinação. A vida é uma batalha e nossos empreendimentos na sociedade também são — assim é a realidade. Portanto, é essencial vencer essas batalhas”. (Brasil Seikyo, edição no 1.735, 14 de fevereiro de 2004, pág. A3.)
O desenvolvimento do Kossen-rufu inicia-se sempre a partir da determinação, ou seja, o “coração” de uma única pessoa. Nitiren Daishonin declara esse princípio no escrito “O Verdadeiro Aspecto de Todos os Fenômenos”: “No início, somente Nitiren recitou o Nam-myoho-rengue-kyo, depois, duas, três e cem pessoas o seguiram, recitando e ensinando aos outros. Assim também será a propagação no futuro. Isso não significa ‘emergir da terra’? Quando a Lei tiver sido amplamente propagada, a nação japonesa inteira recitará o Nam-myoho-rengue-kyo. Isso é tão certo quanto uma flecha que, apontada para a terra, acerta o alvo em cheio”. (As Escrituras de Nitiren Daishonin, vol. 5, pág. 252). Em outras palavras, pode-se afirmar que a realização do Kossen-rufu para a felicidade de todas as pessoas é, em si, o próprio espírito e o “coração” do Buda Nitiren Daishonin. Portanto, como praticantes do Budismo Nitiren, ou melhor, como verdadeiros discípulos, torna-se de fundamental importância herdar esse “coração” do Buda que é o da realização do Kossen-rufu. Na época contemporânea, foram justamente os três primeiros presidentes da Soka Gakkai que herdaram verdadeiramente este “coração” do Buda, desenvolvendo um movimento sem precedentes de propagação do Budismo de Daishonin para a felicidade das pessoas em escala mundial. É por essa razão que o “coração” da unicidade de mestre e discípulo é um fator de extrema importância no correto caminho da prática budista.
No contexto do “coração” da unicidade de mestre e discípulo, cabe relembrarmos a frase do escrito “O Tambor no Portal do Trovão”, na qual Daishonin enaltece o “coração” da já idosa Senniti-ama que morava na distante Ilha de Sado: “Simplesmente observar o rosto um do outro seria insignificante. O que importa é o coração da pessoa. Encontremo-nos algum dia no Pico da Águia, onde vive o Buda Sakyamuni” (ibidem, vol. 6, pág. 99). Com certeza, apesar de não poder realizar o encontro pessoal com Daishonin pela longa distância e pela sua idade avançada, Senniti-ama mantinha uma prática da fé com o “coração” unido ao do seu mestre.
Enfim, independentemente das circunstâncias em que estejamos vivendo no momento, o mais importante é o “coração”, pois nele está o caminho para a vitória.

Nenhum comentário:

Postar um comentário