Qual o propósito da vida? A felicidade. E qual o propósito da religião ou da fé? Deve ser igualmente a felicidade do ser humano.
O que, então, vem a ser a felicidade? Em que consiste uma vida feliz?
Se a felicidade pudesse ser encontrada nos prazeres efêmeros, o mundo estaria transbordando de felicidade. Se a verdadeira felicidade pudesse ser encontrada em uma vida só de entretenimento, então, o mais apropriado seria consagrar-se ao hedonismo. Porém, do ponto de vista da eternidade da vida, por todo o passado, presente e futuro, essa felicidade é uma ilusão e, no final, irá se mostrar inútil e vazia.
O budismo ensina como podemos atingir uma felicidade indestrutível ou, como dizia o presidente Toda, “um estado de vida de felicidade absoluta”.(...)
A frase (do Sutra de Lótus) “Por asamkhya de kalpas, sempre estive no Pico da Águia e em muitos outros lugares” significa literalmente que o Buda se encontra no Sagrado Pico da Águia durante um período inconcebivelmente longo e que também aparece em diversos mundos das dez direções.
Do ponto de vista do Budismo de Nitiren Daishonin, isso indica que o Gohonzon existe somente em nossa vida, em todos os momentos e onde quer que estejamos. O Gohonzon sempre está “junto” a nós e “ao nosso lado”, não se afastando de nós por um instante sequer. Ele está sempre conosco. Por favor, vamos gravar essas palavras no coração.
A partir do próximo verso, “Enquanto os seres presenciam o final de um kalpa...”, temos uma descrição de dois mundos completamente distintos. O verso “Enquanto os seres presenciam o final de um kalpa e tudo é consumido em chamas” descreve um mundo de sofrimento que reflete a condição de vida das pessoas. É, na verdade, um estado infernal de sofrimento e temor. Porém, a partir do verso “Esta minha terra permanece segura e tranqüila”, a cena muda completamente. Observamos aqui, paz e tranqüilidade. Há uma vibrante alegria, uma música cheia de vida e uma rica cultura. Este é o mundo visto pelo Buda com seu vasto estado de vida.
Na realidade, esses dois mundos são unos. As pessoas comuns e o Buda percebem e experimentam o mesmo mundo de formas totalmente distintas.
Nitiren Daishonin disse que essa “grande chama” que as pessoas percebem é o “grande fogo dos desejos mundanos”. (Gosho Zenshu, pág. 757.) Não é o mundo, mas sim sua própria vida que está sendo consumida pelas chamas. E, em face disso, as pessoas tremem de medo.
Por isso, o buda as aconselha, dizendo: “O que têm a temer ou a lamentar? A verdade não é tudo o que estão percebendo!” E lhes diz: “Esta terra onde habito está sempre segura e tranqüila.”
Com essas poucas palavras, o Buda dissipa as ilusões das pessoas e “abre” seu estado de vida superficial e limitado. São palavras de grande benevolência que expressam o desejo do Buda de elevar todas as pessoas, toda a humanidade até a suprema iluminação.
Os ensinos pré-Sutra de Lótus expõem que o Buda e as pessoas comuns vivem em “mundos diferentes”. Explica que as pessoas devem atravessar “este mundo”, o mundo saha, até o “outro mundo”, onde se acredita que o Buda habita, e isso só é possível por meio da prática durante um período de tempo extremamente longo.
Porém, o capítulo Juryo ensina que o Buda expõe eternamente a Lei neste mundo saha, que este mundo é a terra do Buda e que o Buda e as pessoas comuns habitam em um mesmo mundo saha.
Nitiren Daishonin afirma em uma de suas escrituras: “Os espíritos famintos vêem o Rio Ganges como fogo; os seres humanos vêem-no como água; e os seres celestiais como amrita.1 A água, em essência, é a mesma, mas aparece sob formas distintas conforme a condição cármica de cada pessoa.” (The Major Writings of Nichiren Daishonin, vol. 5, pág. 163.)
O que vemos difere conforme nosso estado de vida. Porém, quando nosso estado de vida muda, o “mundo” em que vivemos também se modifica. Este é o princípio supremo de “itinen sanzen real”, segundo o qual um único momento da vida contém os três mil mundos, tal como expressa o Sutra de Lótus.
Nitiren Daishonin disse sobre sua vida de contínuas perseguições: “Dia após dia, mês após mês, ano após ano, fui submetido a repetidas perseguições. As perseguições e hostilidades de conseqüências menores são tão numerosas que sequer as conto. Porém, as principais perseguições foram quatro.” (Ibidem, vol. 2, pág. 114.)
Durante seu exílio na Ilha de Sado — que foi incontestavelmente a perseguição de maior severidade — Nitiren Daishonin proclamou tranqüilamente: “Sinto uma imensurável alegria mesmo estando agora exilado.” (Ibidem, vol. 1, pág. 94.) Dessa condição elevada de vida tão vasta como o Universo, ele observava tudo com imperturbável tranqüilidade.
Tsunessaburo Makiguti, o presidente fundador da Soka Gakkai, suportou a dura vida na prisão porque tinha o seguinte em mente: “Quando penso nos sofrimentos que Daishonin enfrentou na Ilha de Sado, vejo que minhas dificuldades não são nada.” Ele também escreveu em uma carta: “Dependendo de como concebemos os fatos, podemos experimentar alegria mesmo no inferno.”
Um vasto estado de vida é produto de um forte humanismo. Para dar outro exemplo, recordo-me de como o segundo presidente, Jossei Toda, encarou o dia em que teve de cessar as atividades da editora que dirigia devido à crise da época. Descrevi essa cena em meu romance Revolução Humana.
Na época, eu tinha 21 anos. Como redator da revista mensal O Japão dos Meninos, estava tomado pelo entusiasmo. Porém, repentinamente, a publicação da revista foi interrompida. Foi realmente um grande choque, como se estivesse a bordo de um avião detido em pleno vôo.
Porém, quando olhei para o presidente Toda, vi que ele estava entretido em um jogo de shogui2 com um amigo, tranqüilo e imperturbável. Por uns instantes, não consegui entender como ele podia proceder daquela forma num momento tão crítico. Mas, pouco depois, o motivo ficou claro para mim. “Ele está certo. Para ele nada mudou. Seu aspecto é uma declaração de que dará continuidade a sua luta.” A inspiração que essa sua atitude infundiu em mim continua vívida até os dias de hoje.
Por mais violentas que sejam as tormentas do destino que nos assolam, nosso espírito de luta não deve vacilar o mínimo. Nossa fé, ou determinação, não deve absolutamente ser destruída. A frase “esta minha terra permanece segura e tranqüila” descreve esse estado de vida.
Eu sou um discípulo de Jossei Toda. Desde a época em que iniciei minha marcha junto a ele, aos dezenove anos, até os dias de hoje, compus uma história de meio século, suportando sucessivas tempestades e navegando por mares tempestuosos. Dessa forma, desenvolvi a força para resistir a qualquer adversidade sem vacilar o mínimo.
O presidente Toda nos ensinou que a frase “esta minha terra permanece segura e tranqüila” refere-se aos nossos lares, onde o Gohonzon está consagrado; nossos lares, estarão “seguros e tranqüilos” como resultado de nossa prática.
Haja o que houver, não devemos absolutamente ser derrotados. Avancemos orgulhosamente com um nobre estado de vida e com este espírito resoluto: “Sólido é o castelo de meu coração.”
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