segunda-feira, 25 de outubro de 2010

Crise familiar e Revolução Humana

Na “Carta a Itinosawa Nyudo” consta a seguinte passagem: “Suponha que haja um jovem casal. O marido ama muito a sua esposa e a esposa pensa tão ternamente em seu marido que se esquecem completamente de seus pais. Em decorrência disso, os pais andam com roupas pouco espessas, enquanto o quarto do jovem casal é quente e aconchegante. Os pais não têm nada para comer, ao passo que os estômagos dos dois estão cheios. Esses jovens estão cometendo o pior tipo de conduta filial, e, no entanto, eles não vêem que estão fazendo algo errado. E uma esposa que deliberadamente dá as costas à sua própria mãe e um marido que vai contra o seu próprio pai não são culpados de uma ofensa ainda mais grave? (As Escrituras de Nitiren Daishonin, vol. 6, pág. 107.)
Nitiren Daishonin descreve nesse trecho uma conduta familiar em que são gerados causas e efeitos negativos pela relação hostil entre os familiares. Os pais de hoje foram jovens no passado e podem não ter prestado o devido cuidado a seus pais. Como efeito disso, são maltratados agora por seus filhos. Esses filhos, quando se tornarem idosos, serão desprezados da mesma forma. Caso esse ciclo não seja interrompido, isto é, se pais e filhos não se esforçarem para criar uma relação de respeito, de harmonia e de compreensão mútua, uns apoiando os outros, a felicidade será apenas um sonho distante.
Muitas vezes, os familiares sentem-se impotentes diante da crise familiar pelo fato de a solução depender unicamente deles mesmos. Nesse sentido, entre todas as dificuldades, os conflitos familiares são os mais difíceis e mais demorados de serem resolvidos quando continuarem agindo como simples mortais comuns.
A forma de transformar a crise familiar é o aperfeiçoamento consciente das qualidades e virtudes do único responsável que é o ser humano. Isto é chamado de revolução humana, cujo processo ocorre concretamente em meio às crises de relacionamento humano.
O ser humano é o protagonista de todos os problemas como também de todas as soluções. Tanto na menor unidade social chamada família, como nas maiores, como a comunidade, associações, empresa, governo ou nação, a tarefa de maior importância é o aperfeiçoamento do ser humano e a criação de excelentes valores humanos.

Intolerância entre familiares

Uma das relações familiares que gera constante conflito é a intolerância entre nora e sogra. Essa crise provém da natureza humana, que muitas vezes recusa-se a “compartilhar uma mesma propriedade”, isto é, os filhos. Essa natureza ou estado de vida vem à tona principalmente quando a relação entre familiares se torna mais acentuada, por exemplo, num convívio sob o mesmo teto. Essa relação somente se normalizará quando essas pessoas desafiarem a transformação dessa natureza própria do ser humano, deixarem de lado a disputa e direcionarem seus esforços para o bem-estar familiar.
No escrito “Carta aos Irmãos” que Nitiren enviou aos irmãos Ikegami, Munenaka e Munenaga, ele fez as seguintes recomendações: “Os senhores são como duas asas de um pássaro ou os dois olhos de um homem, e suas esposas são seus apoios. As mulheres estão numa posição de seguir e, ao mesmo tempo, de guiar os outros. Quando seu marido é feliz, a esposa sentirá realizada. Se seu marido é um ladrão, ela será também uma ladra. Isto não é um assunto somente desta existência”. (Ibidem, vol. 1, pág. 241.)

O relacionamento ideal

Nesse mesmo escrito, Nitiren destaca a relação entre marido e mulher com as seguintes comparações: “Um marido e sua esposa são tão íntimos como um corpo e sua sombra, as flores e seus frutos, ou as raízes e suas folhas em cada existência da vida. Os insetos comem as árvores em que vivem, e os peixes bebem a água em que nadam. Se a grama murcha, as orquídeas sofrem, e se os pinheiros prosperam, os carvalhos exultam. Mesmo árvores e gramas estão intimamente relacionados. Hiyoku é um pássaro com um corpo e duas cabeças e suas bocas nutrem um mesmo corpo. Hihoku é um peixe de um olho só e, assim, o macho e a fêmea permanecem juntos por toda a vida. Isto é ser marido e mulher”. (Ibidem, pág. 242.)
Conforme ensina o budismo, as pessoas criam causas positivas ou negativas por três meios: pela cabeça, pela boca e pelo corpo, que são as ações geradas pelo pensamento, pela fala e pela conduta. E essas ações são mais freqüentes e mais profundas nas relações familiares.
Aprimorar essas ações no convívio familiar é, portanto, de suma importância para se criar e compartilhar a harmonia e a felicidade entre os familiares.
Assim, criar a harmonia familiar é algo plenamente possível em qualquer situação. E isso deve ser tentado sempre, por mais que aparentemente dependa da boa-vontade de outros. Pensar o contrário é, na prática, ir contra a própria noção de família, esta já tão desconsiderada nos dias de hoje.

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